sábado, 9 de outubro de 2010

Vacinação de cães e gatos contra raiva é suspensa preventivamente em todo o país

 
Ministério da Saúde recomenda a interrupção das campanhas de vacinação antirrábica até que sejam concluídas as investigações sobre reações à vacina

O Ministério da Saúde decidiu, nesta quinta-feira (7), suspender preventivamente as campanhas de vacinação de cães e gatos contra raiva animal em todo o país. A decisão foi tomada após resultados preliminares de investigação laboratorial informados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O Ministério da Saúde recebeu a análise parcial nesta quarta-feira (6).

A investigação laboratorial, realizada com cobaias, indicou a ocorrência de efeitos graves e mortes depois da vacinação que, até então, não eram previstos na literatura científica disponível. Com base nesses resultados, como medida cautelar, o MAPA recomenda a interrupção temporária do uso da vacina, até que a investigação laboratorial seja concluída. Entre os efeitos que não eram previstos e que foram observados estão hemorragia, dificuldade de locomoção, hipersensibilidade de contato e intensa prostração. Vale ressaltar que os resultados laboratorias preliminares indicam alterações ocorridas apenas nas amostras colhidas nos estados. Essas alterações não haviam ocorrido nos testes iniciais feitos pelo MAPA para a liberação da vacina, nem na contraprova de amostras mantidas em estoque.

De acordo com o diretor de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Eduardo Hage, as informações sobre ocorrência de mortes e casos graves disponíveis até a última quarta-feira não eram suficientes para suspender a vacinação. Segundo Hage, embora os dados laboratoriais parciais ainda não sejam suficientes para afirmar a real causa das mortes, elas estão associadas temporalmente à vacina, pois os sintomas nos animais começaram em até 72 horas após a aplicação, além de ter ocorrido aumento de notificações por parte dos estados, nesta semana.

“Até então, tínhamos relatos de mortes e casos graves nos estados, mas sem evidências de estudos controlados em laboratório. Agora que temos essas informações, mesmo que preliminares, decidimos suspender a vacinação preventivamente, até que os estudos sejam concluídos”, explica Eduardo Hage.

A vacina que está sendo analisada é a RAI-PET®, produzida pelo laboratório Biovet, que desde 2003 tem registro no MAPA – responsável pela realização de testes de qualidade nas vacinas utilizadas em animais. Para a campanha de vacinação antirrábica em cães e gatos de 2010, o Ministério da Saúde comprou 30,9 milhões de doses da vacina, por R$ 23,4 milhões.

Do total de doses, já foram distribuídas 22,6 milhões aos estados. Atualmente, o Ministério da Saúde tem 7,3 milhões de doses da vacina em estoque. Com a recomendação de suspender a campanha, as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde devem manter as vacinas acondicionadas em ambiente refrigerado, entre 2 e 8 graus centígrados, até a conclusão dos estudos em andamento.

NÚMEROS NACIONAIS – Desde julho, a vacinação já foi iniciada em 22 estados e no Distrito Federal. Foram vacinados 7,9 milhões de animais. A meta é vacinar 28,5 milhões de cães e gatos.

De 12 de agosto a 6 de outubro, as Secretarias Estaduais de Saúde notificaram ao Ministério 1.401 eventos graves envolvendo animais, dos quais 217 mortes, ocorridas no Distrito Federal, Espírito Santo, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, São Paulo e Tocantins. Nesses 11 estados e no DF, foram imunizados, até 6 de outubro, 5,8 milhões de cães e gatos.

O monitoramento dos eventos adversos graves vem sendo realizado pelo Ministério da Saúde, em parceria com estados e municípios, desde a notificação das primeiras ocorrências, no Rio de Janeiro e em São Paulo. De acordo com a literatura científica, são consideradas reações graves, após a vacinação de animais, somente a anafilaxia (reação sistêmica à vacina) e a morte. Outras reações são consideradas normais, como dor e pequeno inchaço no local da aplicação (consideradas leves); e letargia, febre e sonolência (moderadas).

A vacina utilizada até o ano passado, a Fuenzalida & Palacios, assegurava proteção durante seis a sete meses. Por isso, nas áreas de maior risco (regiões Norte e Nordeste), eram realizadas duas campanhas anuais. A vacina RAI-PET assegura proteção durante um ano, o que levaria à realização de apenas uma campanha anual.

SOBRE A RAIVA – A raiva é uma doença viral transmitida ao homem quando um animal infectado o morde, lambe ou arranha. Os principais transmissores são os cães, gatos, saguis e morcegos. Como não é possível imunizar animais que vivem na natureza, a campanha de vacinação de cães e gatos é a principal forma de prevenir os casos da doença em humanos, que tem letalidade altíssima, próxima de 100%. Somente três casos no mundo conseguiram sobreviver – um deles foi um rapaz do interior de Pernambuco, em 2008.

Em 2010 foram notificados dois casos de raiva humana no Brasil – um no Rio Rio Grande do Norte, por ataque de morcego, e outro no Ceará, por ataque de cão. Os dois pacientes morreram. De 1990 a 2009, o número de casos de raiva humana, considerando todas as espécies agressoras, caiu drasticamente – de 73 para 1. A partir de 2005, a intensificação das ações de vigilância permitiu uma redução ainda mais acentuada

http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/casos_conf_raiva_hum_1990_2010.pdf

O QUE FAZER – Ao identificar que cães e gatos estão com suspeita de raiva, os donos devem isolar os animais e chamar ajuda especializada, que pode ser a de técnicos do centro de controle de zoonoses local ou a de um veterinário da secretária municipal de saúde para que as providências adequadas sejam adotadas. Se a pessoa for agredida por qualquer animal, deve-se lavar imediatamente a ferida com água e sabão e procurar um profissional de saúde para obter orientações sobre indicação de profilaxia antirrábica (vacina e/ou soro).  Quando a agressão for por cães ou gatos, os animais deverão ser confinados por dez dias após a agressão, para observação de sintomas da doença e, se o animal morrer, deve-se informar o departamento de zoonoses do município imediatamente.

Caso seja detectada a presença de morcegos na região, deve ser realizada a notificação aos órgãos da saúde e agricultura local para adoção de medidas de controle e prevenção, como: iluminar áreas externas nas residências, colocar telas nos vãos de dilatação de prédios, janelas e buracos e fechar ou vedar porões, pisos falsos e cômodos pouco utilizados que permitam o alojamento de colônias deste mamífero.

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