segunda-feira, 20 de maio de 2013

Reflexão sobre o papel das empresas na obesidade infantil

Reflexão sobre o papel das empresas na obesidade infantil
 
Elas precisam incentivar estilo de vida mais saudável
O resultado de uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostrou que o consumo de alimentos cozidos teria sido fundamental para a evolução da espécie humana. Eles garantiram as calorias a mais que o metabolismo necessitava para suportar um cérebro maior. Mas, hoje, com os eletrodomésticos, como a geladeira, a oferta de alimentos ricos em calorias tornou-se mais fácil e constante, causando problemas como a obesidade. É assim que a neurocientista brasileira e orientadora do estudo da UFRJ, Suzana Herculano-Hourzel resume a nossa evolução, do ponto de vista do que comemos ao longo de milhões de anos.

Para Suzana, a ingestão de alimentos cozidos pode ter sido o grande  “pulo do gato”  evolutivo, que possibilitou o surgimento de cérebros maiores e, com eles, da curiosidade e do engenho humanos.  Cozinhar, assim, foi um ato libertador que permitiu ao ser humano sair das cavernas escuras e...tornar-se obeso?
Não. Suzana Herculano-Hourzel explica a epidemia de obesidade dos dias hoje pela enorme e farta oferta de calorias, principalmente nos alimentos industrializados, consumidos em larga escala por bilhões de pessoas.

Retomar a prática de cozinhar a “comida caseira”, com ingredientes saudáveis obtidos na quitanda e temperados com equilíbrio de sal e ervas. Essa pode ser a maneira de se enfrentar essa epidemia.
Sexta feira, dia 17, comemoramos o Dia da Revolução na Alimentação (Food Revolution Day), uma iniciativa global do Instituto Jamie Oliver, o famoso chef britânico que tem despendido tempo e dinheiro para fazer as pessoas voltarem a ter o prazer de cozinhar com alimentos saudáveis, compartilhar uma refeição e conhecer mais o tipo de comida que ingerem.
Não se trata, pois, de um dia para ser “contra” alguma coisa, mas “a favor” de uma vida saudável e de entender a hora de comer como aquela do compartilhamento em família e com amigos.

No Brasil, estão programadas várias atividades, como a do Instituto Akatu, que vai realizar um piquenique sustentável.
Nós, do Ethos, nos engajamos  nesse dia fazendo uma reflexão sobre os impactos das ações empresariais num dos grandes problemas de saúde pública em praticamente todos os países: a obesidade infantil. Mais especificamente, vamos comentar a decisão da Coca Cola de não fazer mais anúncios dirigidos a crianças até 12 anos e de reduzir ainda mais o açúcar em toda a linha de bebidas.

Contexto

A Coca-Cola comunicou, na semana passada, que não fará mais campanhas publicitárias para crianças menores de 12 anos. A decisão voluntária foi tomada juntamente com o governo dos Estados Unidos que já vem há algum tempo fazendo alertas sobre os altos índices da obesidade infantil no país.

Outra medida prevê que crianças abaixo dessa idade não aparecerão consumindo produtos em comerciais da marca sem a presença de um adulto.
A companhia também se comprometeu a somente usar em seus anúncios imagens de modelos fotográficos maiores de 12 anos.
A estratégia  será implantada em 200 países, entre eles o Brasil. Também vai reformular embalagens para informar a quantidade de calorias de seus produtos.
A atitude da empresa, famosa por seus anúncios publicitários, foi voluntária e atende uma reivindicação também da sociedade civil brasileira engajada com os direitos das crianças e com a luta contra a obesidade infantil. Outro compromisso assumido pela empresa é colocar informações nutricionais na frente de todas as embalagens e valorizar ainda mais as bebidas dietéticas em mercados emergentes. A intenção desses atos é que, assim, a empresa passe a ser vista pelos consumidores não só como incentivadora de um estilo de vida mais saudável, como também alertar para a importância de uma alimentação balanceada em todas as idades.
Sobre a obesidade infantil
Os índices de obesidade infantil aumentaram exponencialmente nos últimos anos, no mundo. Desde a década de 80 a obesidade passou a fazer parte das doenças pediátricas de uma forma mais pontual e hoje em dia é um dos males mais comuns enfrentadas por endocrinologistas e pediatras. Nos últimos 20 anos a obesidade infantil cresceu de 5% para 12% nas idades de 2 a 5 anos, de 4% para 17% em crianças entre 6 a 11 anos, e de 6,1% para 17,6% entre os adolescentes até 19 anos.
Somente no Brasil, o índice de crianças e adolescentes obesos aumentou 240% nos últimos 20 anos. De acordo com uma pesquisa realizada pela Força Tarefa Latino-Americana de Obesidade, entidade que reúne as principais sociedades de combate ao excesso de peso nesse continente, já são 70 milhões de pessoas acima do peso em nosso país. Segundo a Agência Brasil, esses dados representam uma despesa de aproximadamente R$ 1,5 bilhão anuais aos cofres públicos para o tratamento de doenças decorrentes do aumento de peso.
No Brasil, o número de crianças acima do peso ideal para a idade já se assemelha aos dados americanos: uma em cada cinco crianças está com excesso. Para os médicos, as principais causas para esse sobrepeso são: falta de sono, ausência de atividades físicas e os maus hábitos alimentares, como comer fora de casa em horários não regulados e consumir alimentos muito calóricos e de baixo valor nutritivo.
Com vista a diminuir a ingestão compulsória desses alimentos, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), decidiu limitar as ações de merchandising para o público infantil. A decisão começou a valer no dia 1° de março.
De acordo com essa nova autorregulação, crianças não poderão participar mais de ações de merchandising na televisão.  O merchandising direcionado a esse público até 12 anos também não será mais aceito em qualquer horário da programação.  A publicidade destinada ao público infantil só poderá ser veiculada nos intervalos comerciais.
Com essas novas regras, o Conar acredita que esteja correspondendo à preocupação da sociedade com a formação das crianças.
Ao adotar a nova medida em relação à publicidade, a Coca-Cola está indo além do estipulado pelo Conar e isso é o que se espera de uma empresa socialmente responsável, buscando a sustentabilidade dos seus negócios.
A Coca lançou essa política no mês em que comemora 127 anos de atividades e afirmou que ela é resultado de um diálogo travado entre sociedade, poder público e mercado diante de questionamentos surgidos por conta de  estratégias de marketing. No comunicado oficial distribuído no dia 8 de maio, a Coca Cola reconheceu que publicidade  tem forte impacto nas decisões de consumo das pessoas, ressaltando que é possível adotar estratégias responsáveis, que alertem o consumidor para potenciais consequências de se consumir certos produtos e serviços, mesmo que sejam da própria anunciante.

Indo ainda mais longe, é possível dizer que, ao adotar a diretriz de não anunciar mais para crianças, a Coca Cola reconhece que as relações de consumo são compartilhadas entre os consumidores, os poderes públicos e as próprias empresas, sendo que estas podem adotar medidas restritivas à sua própria publicidade. A Coca Cola não acredita que seu faturamento e que continuará sendo a marca mais valiosa do mundo, avaliada em 77 bilhões de dólares, de acordo com relatório da Interbrand.
Tomara que o exemplo da Coca Cola  possa, de alguma forma, contribuir para a revisão de outras empresas, empregando mais valores éticos e transparência em suas condutas.

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